domingo, 23 de agosto de 2009

Adolescentes: sexo, transformações e mídia

A adolescência é uma fase de transformações, desenvolvimento e novos conhecimentos, é a partir dela que o jovem começa a se descobrir sexualmente e criar seus próprios conceitos com relação à vida. Surgem muitas dúvidas e mudanças, seja ela na sexualidade ou na transformação do corpo, é neste momento que começam a acontecer o primeiro beijo, namorado e o interesse pelo início da vida sexual. Valentina Pigozzi (2002, p. 98), psicóloga clínica, farmacêutica-bioquímica e especialista em terapia de adultos, adolescentes, casais e família faz a seguinte colocação: “Na puberdade, o sexo deixa de ser uma possibilidade ou eventualidade para se tornar uma realidade, muitas vezes incômoda de início.”. Com essa passagem da infância para a adolescência aparecem as dúvidas, tabus, preconceitos e a falta de esclarecimentos, tudo novo e confuso para a cabeça do jovem. Segundo Foucault (1988, p. 13) “A idéia do sexo reprimido, portanto, não é somente objeto de teoria. [...] dizer que o sexo não é reprimido, ou melhor, dizer que entre o sexo e o poder a relação não é de repressão, corre o risco de ser apenas um paradoxo.” A partir desse momento, o jovem começa a buscar uma identificação dentro da sociedade, surgem assim os medos, vergonhas e incertezas.

Nesta fase, os pais não seriam os únicos confidentes, algumas vezes não serão eles que os jovens procurarão para contar segredos e dividir suas descobertas. Os laços familiares tomam outras formas e os pais passam a não participar integralmente da vida do adolescente como na infância, assim, as confidências passam a ser trocadas entre amigos, os quais também vivenciam as mesmas experiências.

[...] nem sempre ele falará com os pais a respeito de sexo e suas preocupações em relação a esse tema. Na maioria das vezes, o recurso utilizado será a troca de confissões e experiência com os colegas, buscando saber com os iguais como cada um está fazendo para lidar com temas espinhosos como masturbação e homossexualidade [...]. (PIGOZZI, 2002, p. 99)

A adolescência é uma fase de descobertas, de indagações e é justamente nela que acontecem os conflitos em casa, com os pais. Muitas vezes, os pais, não estão preparados para encarar a transformação dos filhos e passam a repreendê-lo e a impor regras. “Os jovens, por sua vez, para não preocupar os adultos, para adiar as broncas e as manifestações de decepção, preferem esconder lá no fundo do bolso ou embaixo do tapete os medos e as incertezas. Assumem então a irreverência e o descaso.” (COSTA, 1996, p. 22)

Assim, intimidado e não querendo criar preocupação, o jovem não encontra abertura para conversas com os pais. Dessa forma ele se vê na condição de ter que guardar consigo seus medos e incertezas para não precisar passar por repressão dentro de casa.

Com este processo de descobertas, sensações e desenvolvimento físico o jovem passa a buscar um espelho daquilo que gostaria de ser ou de se tornar após esta fase de crescimento. É a partir daí que ele procura na mídia estereótipos do que considera o ideal físico e intelectual, espelhando-se em artistas, sem perceber que estes modelos são produzidos para estar diante das câmeras. “Esquecem-se de que na mídia se estão diante de um personagem produzido, maquiado, sob iluminação adequada, com falas e comportamentos ensaiados, controlado por uma equipe especializada em trabalhar com o imaginário.” (PIGOZZI, 2002, p. 113) Dessa forma o adolescente imagina situações e representações de atitudes, além disso baseiam-se em relações sexuais apresentadas pela televisão, em novelas, as quais pode-se perceber, raramente simulam o uso de preservativos. “O adolescente não sabe como vai ficar quando terminar seu processo de crescimento, mas gostaria de escolher. Por isso, tenta se moldar a modelos fornecidos aqui ou ali, principalmente aqueles gerados pela mídia.” (Id. Ibid., p. 82)

Entrando no campo da interferência da mídia no desenvolvimento, observa-se que os jovens muitas vezes não possuem o entendimento para discernir as imagens, conceitos e preconceitos levantados pelos programas de televisão, principalmente pelas novelas. Nas situações apresentadas pelos programas de televisão raramente vemos discussões que tragam a informação completa e clara para o jovem. Em se tratando de novelas isso vai ainda mais além, levando em conta que os atores, nas novelas, retratam situações muito diferentes das vividas pela maioria dos adolescentes brasileiros, o principal é o fato dos atores que em cenas de relações sexuais raramente usam preservativos, mas não engravidam e não contraem doenças sexualmente transmissíveis, mesmo sendo casados ou tendo vários parceiros sexuais.

A maior parte dos pesquisadores concordaria que as novelas representam a visão mais sensacional, pouco apurada e adictivada da sexualidade adulta. O sexo extraconjugal é retratado oito vezes mais que o sexo entre pessoas casadas; 94% dos encontros sexuais exibidos são entre pessoas não-casadas [...]. Apesar de a menção ou uso de contracepção ser extremamente rara, as mulheres raramente engravidam; ninguém adquire DST a menos que ela ou ele seja prostituta ou gay [...]. Infelizmente, as adolescentes são espectadoras particularmente àvidas das novelas da tarde e as mais recheadas de sexo [...]. (STRASBURGER, 1999, p. 63)

O jovem perante programas como estes e sob a ilusão de que ‘com ele não acontecerá’, age da mesma forma na vida real, sem se dar conta de que nos espetáculos os acontecimentos são monitorados, ensaiados e não acontecem da mesma forma como nos é mostrado na televisão. “Existe a certeza de que com ele não acontecerá nada de errado, pois ele não se permite sequer pensar a respeito. Se não entra em sua cabeça, em seus valores, não acontecerá. Com ele não.” (PIGOZZI, 2002, p. 101)

Levantando todos estes aspectos e observando o comportamento dos jovens, podemos perceber que diante de um ídolo é mais difícil para o jovem entender que o artista preferido também precisa se cuidar, usando preservativos e contraceptivos, já que na mídia, em novelas, ele não usa ou por ventura não comenta o assunto publicamente.

Em um estudo de 75 meninas adolescentes, metade grávidas e metade não-grávidas, as adolescentes grávidas assistiam mais a novelas antes de engravidarem e estavam menos propensas a pensar que suas personagens favoritas das novelas usariam contraceptivos [...]. (Strasburger, 1999, p. 65)

Diante de tantos modelos – tanto da mídia ou em casa – de comportamento e de personalidade o jovem fica confuso quanto ao rumo que deve dar à sua vida. Em casa as conversas com os pais são difíceis para ambos os lados, com os amigos a conversa torna-se mais acessível em se tratando de jovens que vivem situações parecidas e na mídia as poucas informações chegam de forma compacta não sendo direcionada ao mundo do adolescente, desta forma trazendo ainda mais dúvidas e confusão nas informações relacionadas à sexualidade. E dúvidas é que não faltam, são muitas, por exemplo sobre o uso de camisinha, sexo, doenças sexualmente transmissíveis, tudo relacionado ao início da vida sexual.

Embora 50% dos estudantes no final do segundo grau estejam engajados em relações sexuais [...] e os adolescentes sejam bombardeados com mensagens sexuais pela mídia, os administradores escolares e os pais ainda relutam em ver seus adolescentes questionados sobre suas atividades sexuais, mesmo com o uso de consentimento informado. (STRASBURGUER, 1999, p. 66)

Outro fator importante a ressaltar é sobre a idade dos adolescentes que iniciam suas relações sexuais, segundo Müller (2002, p. 60) 70,5% dos adolescentes citaram que suas primeiras relações foram em idade média de 15,4 anos. Ainda sobre a relação sexual, segundo reportagem de Müller (2003, p. 103), cerca de 1 milhão de meninas, no Brasil, não acreditam que possam engravidar sem o uso da camisinha, e engravidam, e um dado preocupante diz respeito ao contágio da AIDS, no qual 61% dos brasileiros não acreditam que a AIDS possa matar.

Um dos problemas enfrentados pelos adolescentes é saber como se prevenir nas relações sexuais, podemos observar que eles não possuem informações suficientes ou a prevenção é esquecida como mostra Takiuti ([s.d.] p. 63) ao falar dos métodos anticoncepcionais, “[...] a grande maioria é a favor do método ‘naturalmente nada’”. Assim iniciam, sem informações suficientes, a sua vida sexual. (COSTA, 1996, p. 107).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, Cristina da. Os grilos da galera: as questões da adolescência hoje. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 1: a vontade de saber. 13 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

MÜLLER, Laura. Seção “Sexo”. Capricho. São Paulo, n. 887, 5 mai 2002, p. 60.

_________. É preciso falar de sexo. Escola. São Paulo, 18 ago. 2003.

PIGOZZI, Valentina. Celebre a autonomia do adolescente: entendendo o processo de iniciação na vida adulta. São Paulo: Editora Gente, 2002.

STRASBURGER, Vitor C. Os adolescentes e a Mídia: Impacto Psicológico. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

TAKIUTI, Albertina. A adolescente está ligeiramente grávida. E agora?. São Paulo: Iglu, [s.d.]

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domingo, 23 de agosto de 2009

Adolescentes: sexo, transformações e mídia

A adolescência é uma fase de transformações, desenvolvimento e novos conhecimentos, é a partir dela que o jovem começa a se descobrir sexualmente e criar seus próprios conceitos com relação à vida. Surgem muitas dúvidas e mudanças, seja ela na sexualidade ou na transformação do corpo, é neste momento que começam a acontecer o primeiro beijo, namorado e o interesse pelo início da vida sexual. Valentina Pigozzi (2002, p. 98), psicóloga clínica, farmacêutica-bioquímica e especialista em terapia de adultos, adolescentes, casais e família faz a seguinte colocação: “Na puberdade, o sexo deixa de ser uma possibilidade ou eventualidade para se tornar uma realidade, muitas vezes incômoda de início.”. Com essa passagem da infância para a adolescência aparecem as dúvidas, tabus, preconceitos e a falta de esclarecimentos, tudo novo e confuso para a cabeça do jovem. Segundo Foucault (1988, p. 13) “A idéia do sexo reprimido, portanto, não é somente objeto de teoria. [...] dizer que o sexo não é reprimido, ou melhor, dizer que entre o sexo e o poder a relação não é de repressão, corre o risco de ser apenas um paradoxo.” A partir desse momento, o jovem começa a buscar uma identificação dentro da sociedade, surgem assim os medos, vergonhas e incertezas.

Nesta fase, os pais não seriam os únicos confidentes, algumas vezes não serão eles que os jovens procurarão para contar segredos e dividir suas descobertas. Os laços familiares tomam outras formas e os pais passam a não participar integralmente da vida do adolescente como na infância, assim, as confidências passam a ser trocadas entre amigos, os quais também vivenciam as mesmas experiências.

[...] nem sempre ele falará com os pais a respeito de sexo e suas preocupações em relação a esse tema. Na maioria das vezes, o recurso utilizado será a troca de confissões e experiência com os colegas, buscando saber com os iguais como cada um está fazendo para lidar com temas espinhosos como masturbação e homossexualidade [...]. (PIGOZZI, 2002, p. 99)

A adolescência é uma fase de descobertas, de indagações e é justamente nela que acontecem os conflitos em casa, com os pais. Muitas vezes, os pais, não estão preparados para encarar a transformação dos filhos e passam a repreendê-lo e a impor regras. “Os jovens, por sua vez, para não preocupar os adultos, para adiar as broncas e as manifestações de decepção, preferem esconder lá no fundo do bolso ou embaixo do tapete os medos e as incertezas. Assumem então a irreverência e o descaso.” (COSTA, 1996, p. 22)

Assim, intimidado e não querendo criar preocupação, o jovem não encontra abertura para conversas com os pais. Dessa forma ele se vê na condição de ter que guardar consigo seus medos e incertezas para não precisar passar por repressão dentro de casa.

Com este processo de descobertas, sensações e desenvolvimento físico o jovem passa a buscar um espelho daquilo que gostaria de ser ou de se tornar após esta fase de crescimento. É a partir daí que ele procura na mídia estereótipos do que considera o ideal físico e intelectual, espelhando-se em artistas, sem perceber que estes modelos são produzidos para estar diante das câmeras. “Esquecem-se de que na mídia se estão diante de um personagem produzido, maquiado, sob iluminação adequada, com falas e comportamentos ensaiados, controlado por uma equipe especializada em trabalhar com o imaginário.” (PIGOZZI, 2002, p. 113) Dessa forma o adolescente imagina situações e representações de atitudes, além disso baseiam-se em relações sexuais apresentadas pela televisão, em novelas, as quais pode-se perceber, raramente simulam o uso de preservativos. “O adolescente não sabe como vai ficar quando terminar seu processo de crescimento, mas gostaria de escolher. Por isso, tenta se moldar a modelos fornecidos aqui ou ali, principalmente aqueles gerados pela mídia.” (Id. Ibid., p. 82)

Entrando no campo da interferência da mídia no desenvolvimento, observa-se que os jovens muitas vezes não possuem o entendimento para discernir as imagens, conceitos e preconceitos levantados pelos programas de televisão, principalmente pelas novelas. Nas situações apresentadas pelos programas de televisão raramente vemos discussões que tragam a informação completa e clara para o jovem. Em se tratando de novelas isso vai ainda mais além, levando em conta que os atores, nas novelas, retratam situações muito diferentes das vividas pela maioria dos adolescentes brasileiros, o principal é o fato dos atores que em cenas de relações sexuais raramente usam preservativos, mas não engravidam e não contraem doenças sexualmente transmissíveis, mesmo sendo casados ou tendo vários parceiros sexuais.

A maior parte dos pesquisadores concordaria que as novelas representam a visão mais sensacional, pouco apurada e adictivada da sexualidade adulta. O sexo extraconjugal é retratado oito vezes mais que o sexo entre pessoas casadas; 94% dos encontros sexuais exibidos são entre pessoas não-casadas [...]. Apesar de a menção ou uso de contracepção ser extremamente rara, as mulheres raramente engravidam; ninguém adquire DST a menos que ela ou ele seja prostituta ou gay [...]. Infelizmente, as adolescentes são espectadoras particularmente àvidas das novelas da tarde e as mais recheadas de sexo [...]. (STRASBURGER, 1999, p. 63)

O jovem perante programas como estes e sob a ilusão de que ‘com ele não acontecerá’, age da mesma forma na vida real, sem se dar conta de que nos espetáculos os acontecimentos são monitorados, ensaiados e não acontecem da mesma forma como nos é mostrado na televisão. “Existe a certeza de que com ele não acontecerá nada de errado, pois ele não se permite sequer pensar a respeito. Se não entra em sua cabeça, em seus valores, não acontecerá. Com ele não.” (PIGOZZI, 2002, p. 101)

Levantando todos estes aspectos e observando o comportamento dos jovens, podemos perceber que diante de um ídolo é mais difícil para o jovem entender que o artista preferido também precisa se cuidar, usando preservativos e contraceptivos, já que na mídia, em novelas, ele não usa ou por ventura não comenta o assunto publicamente.

Em um estudo de 75 meninas adolescentes, metade grávidas e metade não-grávidas, as adolescentes grávidas assistiam mais a novelas antes de engravidarem e estavam menos propensas a pensar que suas personagens favoritas das novelas usariam contraceptivos [...]. (Strasburger, 1999, p. 65)

Diante de tantos modelos – tanto da mídia ou em casa – de comportamento e de personalidade o jovem fica confuso quanto ao rumo que deve dar à sua vida. Em casa as conversas com os pais são difíceis para ambos os lados, com os amigos a conversa torna-se mais acessível em se tratando de jovens que vivem situações parecidas e na mídia as poucas informações chegam de forma compacta não sendo direcionada ao mundo do adolescente, desta forma trazendo ainda mais dúvidas e confusão nas informações relacionadas à sexualidade. E dúvidas é que não faltam, são muitas, por exemplo sobre o uso de camisinha, sexo, doenças sexualmente transmissíveis, tudo relacionado ao início da vida sexual.

Embora 50% dos estudantes no final do segundo grau estejam engajados em relações sexuais [...] e os adolescentes sejam bombardeados com mensagens sexuais pela mídia, os administradores escolares e os pais ainda relutam em ver seus adolescentes questionados sobre suas atividades sexuais, mesmo com o uso de consentimento informado. (STRASBURGUER, 1999, p. 66)

Outro fator importante a ressaltar é sobre a idade dos adolescentes que iniciam suas relações sexuais, segundo Müller (2002, p. 60) 70,5% dos adolescentes citaram que suas primeiras relações foram em idade média de 15,4 anos. Ainda sobre a relação sexual, segundo reportagem de Müller (2003, p. 103), cerca de 1 milhão de meninas, no Brasil, não acreditam que possam engravidar sem o uso da camisinha, e engravidam, e um dado preocupante diz respeito ao contágio da AIDS, no qual 61% dos brasileiros não acreditam que a AIDS possa matar.

Um dos problemas enfrentados pelos adolescentes é saber como se prevenir nas relações sexuais, podemos observar que eles não possuem informações suficientes ou a prevenção é esquecida como mostra Takiuti ([s.d.] p. 63) ao falar dos métodos anticoncepcionais, “[...] a grande maioria é a favor do método ‘naturalmente nada’”. Assim iniciam, sem informações suficientes, a sua vida sexual. (COSTA, 1996, p. 107).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, Cristina da. Os grilos da galera: as questões da adolescência hoje. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 1: a vontade de saber. 13 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

MÜLLER, Laura. Seção “Sexo”. Capricho. São Paulo, n. 887, 5 mai 2002, p. 60.

_________. É preciso falar de sexo. Escola. São Paulo, 18 ago. 2003.

PIGOZZI, Valentina. Celebre a autonomia do adolescente: entendendo o processo de iniciação na vida adulta. São Paulo: Editora Gente, 2002.

STRASBURGER, Vitor C. Os adolescentes e a Mídia: Impacto Psicológico. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

TAKIUTI, Albertina. A adolescente está ligeiramente grávida. E agora?. São Paulo: Iglu, [s.d.]

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